domingo, março 27, 2011

Como pegar no sono

Onze da noite. Alexandre abre o tubo segurando de forma malabárica a escova e a pasta e aperta, escorregando nas cerdas. Dá uma olhada em frente e vê seu camarada com as manchas de barba em algumas partes do rosto. Empurra o pescoço pra frente e faz uma careta, estica e vira para o lado esquerdo. Olha de rabo de olho, tão de esguelha, que chega o doer. Uma espinha começa a nascer. Com calma põe a pasta e a escova na pia, vira-se, abaixando perto do vaso, sente o cheiro de urina antiga que nem mesmo a água assopra embora, e pega um pedaço de papel higiênico. Volta ao espelho, coloca o papel em volta da espinha e com o polegar e o indicador espreme. Força a pereba que ainda está tão nova que nem parece dar a mínima. Afasta-se e se fixa em algumas partes daquela cara que tantas vezes olha durante o dia. É um rosto liso. Uma beleza simples sem pavoneio. Tem uns rastros que poderiam fazer seus pés se mexerem numa hora dessas, pôr uma roupa descente e ligar o carro e ir atrás dela. Joga o papel no lixo e com os dedos desmãozados aperta de novo a espinha tranquila, nem se lixando. Desiste e abre a torneira, esfrega polegar, indicador e dedo médio. Rosqueia a tampa no tubo, pega a escova e começa a oblação antes do sono. Começa devagar dum jeito compassado e com movimentados pendulares, depois aperta e esfrega mais rápido, cada vez mais rápido e forte, até doerem as gengivas. Cospe e coloca um pouco de água na boca e cospe de novo. Passa a toalha de rosto na boca e encara aquele cara perfeito do outro lado. Hoje é um bom dia para Alexandre, está belo e com as partes bem definidas. As mãos são angulosas e firmes, dá uns tapinhas no rosto. Abaixa a bermuda e a cueca, senta-se na patente e começa a se masturbar, bate uma pensando em Alice, a loira-coroa que vê todas as manhãs da janela do primeiro andar com a bunda arrebitada passando com sacolas do supermercado. Limpa-se, apaga a luz do banheiro e rasteja até o quarto. Agora, sem nada na cabeça, é bom dormir. 
Duas da manhã. A música está alta já faz um tempão lá fora. Maurício e Gisele se pegam pra valer. Ele rasga a calcinha dela e enfia a língua na xana úmida, quente e meio que cheirando a mijo. Gisele se lembra que está com um cara. Ela mantém as pernas lânguidas em 150 graus, fleumáticas. Maurício morde perto da virilha esquerda enquanto grunhe, Gisele dá mais uma tragada no cigarro e, sem querer, quebra a cinza na cabeça dele. Um psycotrance faz tremer a casa, chacoalhando a porta do banheiro, mas Gisele e Maurício nem escutam. Ele aproveita que ela notou o que estava fazendo e enfia a rola na boca. Gisele arremete os dedos e suga olhando como aquela porta está feia, suja e gasta. Maurício é bonito e forte, tem os braços grossos e veias saltadas, o peito liso e o rosto sorridente. Gisele solta o pau duro dele e se vira, erguendo o rabo. Ele cospe no pinto e enfia o dedo no cu daquela bunda muitas vezes sacana, mas agora gelada. Ela continua com o rosto blasé e um olhar profundamente apático. Maurício enfia e Gisele se lembra que está com um cara. O azulejo está meio que quebrado onde ela encosta a cara, o rejunte caiu, e ela escuta o que Maurício está fazendo, um barulho meio chocho. Gisele preferia estar com as garotas, Paula e Ana estão do outro lado da porta em alguém lugar, conversando com alguém ou fumando maconha, cheirando cocaína, quem sabe. E Gisele sabe quão bom é estar entre elas, mas este cara chegou e lhe disse algumas coisas no ouvido que ela não escutou, a chamou prum canto mais sussa e ela pensou que seria rápido. Ana e Paula, Ana Paula, nome composto, quem não casa com Gisele, e elas estão lá do lado de fora, conversando com pessoas nem tão legais, mas que ficam melhores se elas estão com elas. E tem um cara enfiando o pau no seu rabo e ela já perdeu a sensação destas cenas de literatura barata feita pra vender. Maurício termina e sai. Gisele senta no vaso com a tampa abaixada e pensa em Ana e em Paula. Passa os dedos no cu ainda ardente da brutalidade de Maurício, enfia médio e indicador e leva médio e indicador da outra mão pra boceta. Masturba-se lentamente e lentamente, até sentir suas mãos fremirem. Levanta-se. É hora de ir pra casa, dormir. Pega a bolsa e rasteja pra casa, pro quarto. Agora, sem nada na cabeça, é bom dormir.
Duas da manhã. Alice geme enquanto Cláudio a estoca, dá cacetadas firmes e duras e Alice geme mais alto. Cláudio termina e se deita e ela de novo quase gozou. Alice se perde no teto enquanto pensa como é bom amar. Ele está ali pensando em ir à varanda acender um cigarro, mesmo sabendo que ela pouco importa caso fume no quarto. As crianças roncam perto da cozinha. Ela começa a arrumar os lençóis assim que Cláudio pula da cama dizendo o que ela já sabia. Os cabelos estão molhados e grudam na testa, tapando os olhos. Ela os prende e se abaixa para pegar as cobertas que caíram. A calcinha está colada na boceta. Na gaveta escolhe uma seca e vai ao banheiro. Cláudio vai fumar uns três ou quatro, em intervalos de cinco minutos. Se quiser ir pra cama vai ter de ficar quase meia hora sozinha. Em frente ao espelho percebe a idade que começa a mostrar um rosto nem tão comum, mesmo 40 anos depois. Passa a língua no lábio inferior e se lembra que tem de escovar de novo os dentes para tirar o sabor ácido. Antes puxa a calcinha ensopada e cheira. Senta-se no vaso e começa a roçar os dedos no clitóris e a dar beliscõezinhos nos lábios grudentos. A unha do dedo médio está grande, coloca com cuidado na boceta e começa a se masturbar, escorregando a outra mão até os peitos com os bicos duros. Aumenta o ritmo e o corpo se endurece, as pernas se forçam uma contra a outra travando, mas ela continua a enfiar e tirar o dedo. Alice acelera até sentir aquela sensação de que tudo de repente ficou sensível ao máximo, quase nunca quando está com Cláudio. É bom ser amada e Alice sabe disto. Mas também é bom ser desejada e por isto empina bem a bunda quando passa em frente dum prédio e percebe que tem um rapaz meio feio meio bonito, mais bonito que feio, a espiando da janela do primeiro andar. Leva o dedo ao nariz. Alice está sentindo o amor como uma espécie de tristeza tenra. Lava as mãos rasteja até o quarto. Agora, sem nada na cabeça, é bom dormir. 
Onze da noite. Maurício desliga o chuveiro cantarolando alguma coisa de refrões babados e grudentos. Passa a toalha nos cabelos, enxuga as orelhas. O celular em cima do cesto registra algumas chamadas que ele não ouviu. Olha. Pâmela está atrás dele, caçando. Ele sorri e relembra filhadaputamente como chegou e disse que a teria, um amigo duvidou que fosse capaz, tão gostosa e esnobe. Maurício vai sair de casa, é sábado e ele vai sair com alguns amigos, bem pro outro lado, prum lugar que Pâmela não vai. Maurício até que quer vê-la, mas não hoje. Hoje há outros planos, outras pessoas. Gisele tem os olhos meigos pequeninhos e apertados, como se cada vez que fosse enxergar tivesse que fazer um esforço enorme. Enxuga-se e passa a mão no pau. Dá outra risadinha sarcástica e pensa que idiotice é se masturbar. Coloca a cueca e sai pro quarto. Fica ali pouquinho tempo, só o tempo de botar uma roupa maneira, pentear o cabelo e calçar os sapatos. Não quer dormir, nunca. Vai ficar lutando contra o sono até de manhã. Longe de casa. 

Nenhum comentário: