terça-feira, junho 23, 2009

Não coce meu rabo com seu canudo, por favor

Juro que tentei não comentar a decisão do STF. Juro mesmo. Meus dedos latejam desde a semana passada, quando colegas de profissão se manifestaram por MSN, blogs e afins, atacando os deuses de Brasília.
Para começo de conversa, explico, sou totalmente favorável à exigência de diploma para a profissão de jornalista. Entretanto, uma perguntinha básica: desta enxurrada de galanteadores globais, atuantes em CNTs e outras bodegas, com um canudo guardado sabe-se lá onde, quantos são jornalistas ou sabem o que significa a porra desta terminologia?
Salutar, principalmente para questões salariais, defender as habilidades teórico-práticas dos homens de óculos com aros grossos, mal barbeados, e mulheres medonhas (a maioria que trabalha em jornalismo é feia para caralho; bonitinhas, além das que aparecem na tela, são muito poucas). A questão é que nem eles fazem ideia sobre o que propugnam.
Durante meus quatro anos de faculdade acreditava que o quinhão que me cabia pelo esforço em passar no vestibular numa universidade pública e ainda aguentar a lengalenga não repousava nas aulas específicas sobre o “quarto poder”, mas na oportunidade de contatos com pessoas cuspidas dos diversos cantos deste lindinho e adiposo país de Alice. Nada ali me convencia que jornalismo pudesse ser encarado como uma profissão séria. Li bastantes livros a respeito do dito cujo, verdade mesmo. Tinha de entregar resenhas e odiava só desdobrar as orelhas, algo pessoal. Mas se aprendi algo que não seja execrável, isto aconteceu em literatura alheia. Até gibis me prendiam mais a atenção que aquelas porras moralistas do inferno tentando doutrinar. Com exceções, é claro; há livros de jornalismo extremamente coerentes, mas são exceções, infelizmente.
Do curso, saí convicto de que toda a formação deveria ser focada na comunicação social, extremamente teórica. Jornalismo mesmo apenas uma especializaçãozinha de um ano ou ano e meio, no máximo. Quarenta e oito meses para aprender que em rádio e TV se escreve da forma direita -sequência sujeito, verbo e predicado- e em frases que não passem de duas linhas em caixa alta?! Vá tomar nu cu!
Dia desses me emputeci com uma agência de marketing que tentou me enfiar goela abaixo a porra dum “fee” mensal. Por que estes porras não dizem taxa? É jogada colocar uma palavra inglês seguida de outra em português, ou é incompetência de articulação no vernáculo? A imbecil esparramou sobre a mesa um alfarrábio de projetos a serem desenvolvidos em 12 meses -até em promoções deu seus pitacos. Imbróglio: era a primeira vez que me via e uma das primeiras que tinha contato com a empresa em que trabalho. Porra, como dar soluções se nem se sabe em que ponto está o problema, sem pesquisa de opinião séria, sem análise acurada da bosta toda?
Com o jornalismo, não é diferente. A faculdade repassa máximas arcaicas. E interessante é que os caras se sentem os fodões quando pensam burlar a censura do dono, publicando matéria carregada de “opiniões”. Quem edifica opinião coerente numa apuração de duas horas ou muito menos? Desconheço.
Defendo o diploma em jornalismo, desde que saibam o que esta porra é. O canudo, até semana passada, era como um sapato para quem não tinha pernas.
Pegue os jornalões (afinal, um catatau de 80 páginas num papel com mais de 50 centímetros de comprimento por quase 30 centímetros de largura, fedido, é jornalão, sim). Praticamente impossível a qualquer um que possua senso do ridículo ler mais que o lide de duas ou três matérias. Horrivelmente escritas, perdem até para este texto de outro claudicante espirrado duma excelência em ensino.
Enquanto a zona não fechar as portas, por favor, liberem a suruba. Só não vale fio terra.

5 comentários:

googala.opsblog.org disse...

Pelo nível do Jornalismo bastava um monoplama!
abraços, cara

googala.opsblog.org disse...

monoploma, quer dizer

**** disse...

ou um meioploma.
Abraços, garoto!

Gonzaga Britto disse...

Uau, que desabafo! E, sendo o que é, seu texto apresenta a coerência que eu, velho jornalista, só posso confirmar porque passei a vida profissional metido neste terrítório ao qual você se refere. O jornalismo - que em certa época criou e reforçou o lobby sobre um certo "romantismo" que seria a aura idealizada de uma virtude - absorveu tanta gente absurda que hoje não passa de um apanhado vulgar de palavras que voam de acordo com os interesses de seus autores. A verdade pretendida pelos profissionais da área, como você sabe muito bem, nunca existiu e jamais existirá pois não passa de uma circunstância temporária e momentânea, vinculada - outra vez! - ao interesse de quem precisa dela. Por aí vai. Quanto ao diploma, dou-lhe uma porrada e chamo você pra briga: que diploma, que nada! Quem precisa de diploma é físico nuclear, advogado (pra tapear melhor quem acredita na Justiça) e outros profissionais cujo conhecimento deve ultrapassar os limites da vã filosofia que permeia o jornalismo. Assunto que não acaba e, portanto, cansativo. Ponto final. Quando ao blog, já tirei do ar. Sou um velho caduco-obssessivo. Ainda não estou satisfeito com o formato da coisa, há problemas técnicos com o leiaute (ele é visto totalmente deformado nos notebooks) - enfim, ainda não estou satisfeito e pronto. Como você é meu único leitor, não se importará de esperar mais um tiquinho pela reeeeeeeeeeeeestréia, não é? :) Fraterno abraço, saúde e paz.

Cássio Gonçalves disse...

Realmente, boa parte dos que saem dos bancos universitários não compreende a profissão, quando muitos começam o curso seduzidos pelo glamour de Bonners e Fátimas figurando diuturnamente na telinha da Globo.
Concordo com a exigência do diploma, não pelas técnicas jornalísticas ensinadas (com repetição até papagaio aprende), mas sim porque, entre outros motivos, nós, jornalistas, somos também responsáveis pelo registro do tempo (muitos historiadores se baseiam em registros jornalísticos), tarefa que exige responsabilidade e mínima formação filosófica. O diploma não é garantia de que isso tenha sido assimilado, mas é a firma de que pelo foi transmitido, ainda que muitas vezes de maneira precária pelas faculdades pagas de ponta de esquina.
Agora, analfabetos podem se dizer jornalistas e os jornalecos do interior invisível do Brasil preferirão a mão-de-obra barata e deficiente que eles têm a oferecer. Enfim, são vários os pontos e o assunto causa preguiça. Parabéns pelo texto, escrito, como sempre, de forma muito bem elaborada e linguagem peculiar.
Abraço.