segunda-feira, outubro 05, 2009

Mulheres

Perdi o cabaço da boca numa noite úmida, suada, de novembro. Loira, um tanto quanto pequena e rechonchuda. Os fios anelados do cabelo lhe espancavam a cara redonda, esburacada por duas pelotas verdes sorridentes. Era bonita mesmo assim. Fui meio forçado a me descabaçar. Ela, mais nova e muito mais esperta que eu, flertava comigo depois de receber um chute no rabo dum amigo que estava na roda. Outro amigo já enlaçava a mina que estava com ela. 
- Quer levar a gente embora? 
- Claro. 
Aconteceu quatro anos antes de eu entrar na faculdade, ou três. Talvez três. Elas moravam a vinte minutos numa rachada na botina. Ergui o braço e apoiei a mão aberta no rosto, puxei-o a mim. Devagar encostei a boca. E enfiei a língua canhestra na goela.
- Ei, vai com calma. Não quer que eu vomite em você, né?
Nojenta, estúpida, mas estiquei a língua e suguei-lhe os dentes com força. Era legal aquilo, legal para caramba. O quadril afastado para que não percebesse a situação em que eu estava. 
- A gente pode trazer as duas aqui e meter a vara -comentei, como se fosse coisa corriqueira aos fodedores de mãos, enquanto passava na volta com meu amigo em frente ao lugar em que estava trabalhando. 
Ela e meu outro amigo reataram tempos depois. Na roda -zoadas não têm graça com menos de cinco testemunhas- o namoradinho arrependido estrebuchou uma gargalhada. 
- Não é tirando você, mas ela disse que tinha vontade de cuspir enquanto te beijava. 
Sem broncas; havia me dado bem. Ninguém mais podia zoar da minha cara cabaça. 
Perdi o cabaço do pinto (meu, é claro) numa noite seca e mormacenta de dezembro. Dois ou um ano antes de entrar na faculdade. Meu irmão a levara junto com uma amiga para gente ver filmes na casa dum camarada que estava viajando. O cara quase tinha morrido crispado, coberto de vômito, em Floripa. Chamava-se Débora e era mais gata que Graziela, bem mais. Loira também. Esparramava um risinho de safada nos lábios finos, curvados. Eu já era bom no língua-a-língua; quinta ou sexta vez. Só que dava um nó nos dedos ao pensar que brincaria com uma xaninha de verdade.  
Arrastei-a para um quarto escuro e razoavelmente limpo. Comi bochechas, pescoço, peitinhos. Chupei tanto o direito que ficou estranhamente maior. Bem paranoico meu hábito de sorver tetas. Saquei a Jontex do bolso (a única que protegia contra a AIDS, diziam os vividos amigos imbecis). Pronto, o pau tombou. A embalagem! A porra da embalagem broxante. Levei uma surra daquele plástico imbecil. Travei-o no dente e consegui, enfim, rasgá-lo. O trem viscoso, escorregadio, fedido, usado -podia-se dizer- brotou. Juntei a camisinha e tentei fazê-la descer. Arrebentou. A escola não me ensinara a pôr simples camisinhas! De que me servira aquilo tudo? Bufei. Na segunda, ela pediu licença. Fixou-a graciosamente nos dedinhos e deslizou o plástico até encostar-se aos pentelhos. 
Depois de mais chapadas, a gente se engalfinhou em outra foda. “Chupar xoxotinha é muito bom”, diziam os colegas retardados da época -duvido que tenham chupado antes de mim. Corri a cabeça cada vez mais para baixo e a boca tocou num monte de pelos salgados, gostosos até, mas que cheiravam mal -fediam mesmo. Desencanei da ideia.
- Vamo. 
- Quero dar uma descansada. 
- Nem fodendo. Tenho que trabalhar amanhã. 
Perdi o cabaço de medrar cornos numa noite esturricada de janeiro, um ano depois de começar a faculdade. Não era bonita, entretanto tinha deliciosos peitos enormes, simetricamente oblongos; faziam o pau endurecer rapidinho. Ligava todo dia para o meu emprego, despejando sua voz de leite condensado. A gente marcou uma volta no parque. O Sol acachapante. Eu me deitei no seu colo e o nariz desproporcional brotou entre duas redomas. Cinquenta minutos fiquei com Rosana ali. Sem dar beijo a levei embora. Era lento para caralho, mais que agora. E nem Platão me limparia a  barra com seu amorzinho inerme. 
A gente estava sentado no banco debaixo da seringueira -mesmo parque- dias depois. Vi alguém girando a cabeça lá no alto. Mostrei-lhe. 
- É meu noivo. Não encara. Vira. Só vê se ele não vem. 
- Se vier, pico a mula. Quero ver me pegar.
- Tô fodida!
- Difícil pensar em duas pessoas ao mesmo tempo. 
Mas a coisa continuou. Dias depois a parei no canto escuro do muro duas esquinas antes do seu.
- Tá ficando sério - disse sem sequer tê-la beijado. 
- Também acho que tô gostando de você. 
Morena era Rosana. Olhei seus olhos, seus peitos, ergui o queixo e enfiei a língua espertinha em sua boca. 
- Vai. Ele deve estar vindo. 
Corri para baixo. Antes de virar numa rua, vi a moto do cara. Estuguei, fazendo círculos entre as vielas do centro araponguense mal feito. 
 - Vai embora às 11h -ela assegurou ao telefone. 
- Beleza, fico na esquina. Assim que sair, espero uns cinco minutos e subo. 
- Certo. 
Bati o telefone dando risada. Eu ia trepar aquela noite, os caras da mesa ao lado, no trampo, não. 
- Não veio. Ligou avisando que tinha um monte de coisa. 
- Tá metendo com outra. 
- Pode ser. 
- Tô gostando realmente de você. 
Rosana me guiou em um corredor estreito e caiado. A luz estava queimada no quarto da edícula. Detesto meter no escuro, grilo de faturar pela metade. Mesmo gozando antes do que esperava -nas duas vezes-, prendeu os olhos em mim, reverberando a luz negra do extremamente insuportável cubículo. 
- Amo você. 
- Isto é bom. 
A gente fodeu outras vezes. 
- Fica esperto. Ela gosta de vir com uma conversinha mole, que não consegue engravidar -alertou Josuel, colega do trampo. 
- Tô fora. Ela que vai dar golpe de barriga em trouxa.
O ventinho enregelado bafejava mesmo no verão. 
- Impossível continuar. Tô me envolvendo cada vez mais. E sempre tem ele -falei a Rosana, com uma cara consternada de fazer inveja, enquanto a gente se sentava no banquinho da praça. 
- Preciso de um tempo, você sabe disso. Me dá mais um tempo e eu largo dele. 
- Não tem como. Quem vai acabar se ferrando sou eu. 
- Só mais uns dias -rogou com voz nauseabunda. 
Entreguei-a no meio do caminho, em meio a uma batelada de condições absurdas para que a gente se visse. Saí cabriolando. Parei na sorveteria e pedi um imenso pedaço de torta de maçã, coberta com três bolas gigantes de sorvete.
Assistia à TV quando ela ligou cinco dias mais tarde. 
- Alô. 
- Oi. Tô com muita saudade.
- É?
- Larguei dele. 
- O que tenho a ver com isto? 
Abri a janela e o ar geladinho fora de estação se aproximou. Não se faz frio amiúde nesta época. 

2 comentários:

gugala disse...

demais de bom

Serbão disse...

Camarada, tu devia ter comentado antes no meu blog! assim eu conheceria o teu há mais tempo.
é a primeira vez que tô lendo, e tô gostando.