sábado, outubro 10, 2009

Resultado do ócio

São 09 e 12 da noite no meu computador. Estou esperando minha noiva ligar. É um sábado e espero minha noiva ligar! Meu quarto grita em suas laterais a longa tarde de hoje. Quente, extremamente quente! 
Tomei algumas cervejas assim que voltei de Londrina. Fazia tempo que não bebia assim. A barriga parece maior. Está lá embaixo, escarra minha impudicícia gastronômica ou minha ociosidade mórbida. Está lá. 
A farsa, a farsa de tudo que tenho sido. Trabalho de forma incompetente, sempre com a desculpa de que me meteram naquilo alheio à minha vontade. A questão é que não tenho capacidade intelectiva para enxergar o óbvio em muitas coisas. Escrevo mal, pessimamente, numa maldita farsa ululante recortada em livros que li e até que não li, dizem. Pode ser que todos sejam farsas, alguém já tenha feito as combinações, os joguetes possíveis com as palavras. Quem depois veio e vem tagarela. 
Está quase na hora de ela ligar. Roubado de coisas próprias, remendado em conceitos esdrúxulos e paralelos. A farsa enorme, mascarada, que entra no quarto e agarra o pescoço numa noite cheia de mormaço como hoje. 
Bruna me olhava mareando em piedade sempre que nos víamos. Passava calmamente sua mão mansa e breve no meu rosto, dizendo que tudo ficaria bem se fosse a hora. É, Bruna, você mentiu! Sua puta, você mentiu!
Mamãe faz perguntas óbvias enquanto se espreguiça no sofá, as respondo lacônico. Quando era criança ela era o referencial mais cativante da inteligência. Encaro-a, empurro o rosto com comiseração e complacência. O mundo dos fodidos! 
Ela demora a ligar. Demora a falar. Isto se transformou num ritual lancinante, sem nexo. Três vezes por semana, DDD. Nos outros, mensagens ou curto MSN. Ritual besta e infenso a pontos frasais. É preciso esperar. Um refém do outro a quilômetros de distância. Estúpida rendição! Temos pouco a dizer. A acrescentar, mais nada, quem sabe. As mesmas orações no começo, as mesmas expressões vazias no fim. Jogo de regras rijas e grotescamente definidas, rebolados mambembes, retardados.
Vejo quase todo sábado a lutas de vale-tudo na TV. A cabeça dos caras são feitas de borracha, se deformam a cada pancada e voltam ao normal logo que o punho sai. Devo ter brigado umas cinco vezes; apanhei. Dos desgraçados que bateram em mim me vingo com as lutas da televisão. 
São 09 e meia e a porta do quarto de papai e mamãe fez nhec. A idade chega e o amor se torna mais infantil, alcoólico. 
Talvez devesse saltar de paraquedas cortado na agonia em desconhecer se aquela porra abriria. Estar de cara, me ver desfigurado no chão, lá do alto. Abrir a boca e só tomar baforadas do ar contaminado por um cheiro requioso. E eu lutando com o paraquedas, me esfalfando, me matando com as cordinhas. Talvez nunca pule de paraquedas. Farsa se mantém farsa. Falta senso de humor para fazer este texto mastigável. Vou desligar esta porra e esperá-la ligar. 

Um comentário:

Luciana Andradito disse...

a farsa está. ela mora. relaxe dear. ces't la vie. é tudo reflexo mesmo. os sentidos proporcionam a ilusão e a mantêm. mande sua persona correr um pouco e sentir o vento no rosto.beso