domingo, novembro 22, 2009

Tchau!

Ela está ali. Seu tórax  esvoaça em gargalhadas. Os cabelos negros salpicam as bochechas branquinhas, sentem o rosto arredondado burilando a boca grossa. Mantenho-me longe. Gotas de Primavera arrebentam a janela, dão socos fortes e doidos. Duas meninas correm ao canto escuro em que as meninas não são mais meninas. Todo mundo quer correr aos cantos escuros, os pés inchados congelam. Meus pés doem. De verdade. Vá tomar no cu, acho que disse quando vi o horripilante rosto amarrotado refletido esta manhã. Limpa-se a remela e o dia morre. Marcos arruma coisas de que preciso. Ele, aquele filho da puta, ele também sabe que sabe mais que eu. E me zoa por isso. 
Estacada no sofá, pernas brancas correndo-me aos olhos, a primeira vez que a enxerguei. Ela percebeu e apanhou tentando aumentar o vestidinho preto meio metro. Tosco, havia me esquecido de que estava na porra do lugar em que a palavra de Deus vale mais que quando cuspida pelo nazista com o cu no Vaticano: a Universidade. 
Vai além duma xoxotinha quente e macia meter. Está entrecortado em sorrisos irônicos ou emotions inocentes que deixam a gente pateta. Enrolo o que nunca soube e a observo, de esguelha, cochichando com alguém, reclino a cabeça assim que me encara. Sorri e mareja as pupilas rutilantes ao nada, cabeça pendida à esquerda. 
Murchou ela tempos atrás ao chamá-la de clichezinho. Curvou-se e se escondeu, enfiando-se no banco, contorcendo a boca. Tenho o costume besta de rotular o que não entendo nalgumas coisas que penso entender. Por isso talvez seja ela o clichê requintado de Paulina; eu, uma canhestra cópia horripilantemente prensada de Alexei. 
Ela está ali, a se perder em gargalhadas. Tempos mais e se acostuma a não me ver; eu, a mesma coisa. E a vida segue. As noites chegam abafadas, as caras simpáticas e familiares se esmaecem. A gente só consegue peidar “- Tanto faz!”
Escrevi quatro anos antes um texto deveras piegas. Certeza que, mesmo longe, seriam sempre os mesmos, sempre meus amigos do curso idiota, mas que valeu a pena por tê-los encontrado. Recebi REs puídas tanto como havia forjado. Se arrisco a mencionar o apelido de um deles nalguma porra de página pública sussurra cuidados em recadinho recatado; há contatos de trabalho, executivos filhos da puta loucos para torrar alguém com as côdeas do pão baforento, e a manhã nasce caxinguelê. Trabalho é Vida. Ah, fodam-se!
Ela me enganou, não me deixou correr. Tenho medo de quem aparece estendendo a mão de veias intumescidas, soltando cheirinho de suor no pescoço melado. Pessoas fedem. Caricaturas enfiadas em Minhas Imagens, não. Todo mundo diz adeus e a gente fica. 
Ela brinca com o corpo cinzelado em peitos grandes e bunda redonda. À toa, não vê? Não entende que a safadeza casta e bucólica dá risinhos e pisca os olhos na sua voz almofadada remoendo “Eeee agooora?” 
O teto goteja. As bolhazinhas lépidas se esticam e fenecem, encerando o velho assoalho descascado que não arreda o pé. Adora ver vestidos escorregando em pernas diferentes todo os anos. Novembro estertora. E depois? 

* A uma Amiga. Para sempre, espero"