sábado, dezembro 26, 2009

Natal de Maria

José sentou-se de frente a Marcos, antebraços refestelando no espaldar duma cadeira marrom. José e Marcos estavam havia dois dias ali, as paredes brancas ficaram pardacentas; o quarto tostado numa neblina cinza-escuro torvelinhando.
- Se eu enfiasse uma bala na sua cabeça qual seria a sua reação?
José se levantou o encostou o polegar, outros dedos retraídos e o dedão saliente, na cabeça de Marcos.
- Como eu saberia? – esboçou um sorriso enquanto jogou a cabeça ao lado esquerdo e sacolejou. – Talvez reagisse assim. 
- Eh! A morte é o não pensamento, a não morte. Morrer é não morrer. Meu Deus, quanta coisa e nada!
Tostava as cerradas janelas o calor infernal, e José pensou no verão, mas nem ele jogava nos pés um morto cabriolando, dizendo algo. 
- Melhor estar no Hemisfério Norte numa época dessas. Me torno mais humano com o frio. Minha gata teve o filhote comido pelo meu cachorro. Dizem que a cena foi horrível, mas não sinto dó alguma. Fiquei com pena, sim, do miado plangente dela quando o outro gatinho sumiu. Este também quase foi comido. Ou não era pena, mas a agonia da incerteza. Se tivesse se fodido, já era. 
- Cadê Maria? 
Maria andava cortando as manchas de Sol na calçada, as bochechas cuspiam suor nos peitos grandes. As coxas redondas e firmes escapavam sempre da barra do vestido. Era bem aquilo que anelava, que sempre quis, mas José nem foder direito sabia, fumava mais que podia; Maria gostava de balas. Homem de barba na cara, Emanuel, seu filho de 17 anos. Tinha vontade de trepar com ele. Forjava histórias sobre o filho, sobre suas habilidades, masturbava-se. Maria fenecia no câncer, Emanuel procrastinava a tumba. Salvador Emanuel. 
- Vai salvar a todos, não só a mim. 

Um comentário:

Luciana Andradito disse...

como sabia que estou cansada?! ohgaa